28/07/2009

CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO - As Leis Morais II

 II

AS LEIS MORAIS II


Continuando as nossas considerações sobre as leis morais, que levam o ser à perfeição moral, não percamos de vista o enfoque geral dado no módulo anterior, de que as mesmas, como foram colocadas na obra "O Livro dos Espíritos", formam uma sequência de crescente importância, como se representassem uma estrutura organizacional que possibilita ao espírito crescer evolutivamente em torno da linha do princípio e finalidade, passando por elas como por etapas subsequentes, que se entrosam dinamicamente, fazendo com que a consciência abranja, cada vez mais, um raio maior, figurado na espiral

A cada volta da espiral teríamos um ciclo completo. Só se seguiria novo ciclo após o indivíduo ter percorrido todas as etapas que correspondem às diversas leis. O espírito fica retido em cada ciclo até que possa ultrapassar evolutivamente todas as etapas, retornando a essas leis em ciclo mais amplo, como necessidade de aprendizado moral rumo à perfeição. O equilíbrio entre as várias etapas, medido pela possibilidade de vivenciá-las na sua plenitude espiritual, é que dá oportunidade ao ser de adicionar ao seu aperfeiçoamento moral novos avanços, através de um novo ciclo, em que os mesmos princípios que fundamentam as chamadas leis morais deverão ser vivenciados, só que em dimensão superior e ainda não vivida.



1. AS LEIS MORAIS (continuação)


Da lei de sociedade


O ser humano desenvolve o seu psiquismo na relação com o outro. É na troca com o seu semelhante que desenvolve e aperfeiçoa as suas faculdades. O isolamento total, além de ser contrário à lei natural, é a manifestação do mais puro egoísmo - o egocentrismo. O isolamento parcial, quando serve para reflexões e aperfeiçoamento das faculdades do espírito, depois mobilizadas a favor do bem comum, é meritório. A família é um meio pelo qual o espírito aprende a utilizar as suas faculdades, porque ela é uma micro-sociedade. No respeito aos familiares o homem aprende a respeitar os seus irmãos na humanidade.

Da lei do progresso

Do estado de simplicidade ao estado de pureza, o espírito evolui graças à lei do progresso, que o impulsiona como uma força natural, fazendo-o enfrentar as diversas atribulações. O progresso moral torna-se o grande objectivo, e é alcançado à medida que o espírito aprende a discriminar os caminhos que deve conscientemente palmilhar, usando, para tanto, a sua capacidade intelectual. Só valem, como componentes da evolução espiritual, os actos gerados a nível da consciência esclarecida, por ser a discriminação uma função da inteligência, o que coloca o progresso intelectual como base do progresso moral. Por enquanto, devido ao seu atraso espiritual, o homem tem feito do conhecimento um veículo para a sua satisfação imediatista. Quando souber aplicá-lo com sabedoria, terá encontrado o caminho da evolução moral. O orgulho e o egoísmo têm sido, entre os homens, os maiores obstáculos à lei do progresso. A existência de povos degenerados não contraria o progresso; apenas mostra que a lei de causa e efeito se faz presente, devolvendo aos semeadores o fruto amargo das suas semeaduras. Pelas características próprias e pela influência dos costumes locais, a humanidade futura sempre será formada por nações diferentes, mas que se entenderão, graças ao princípio da evolução e da caridade. A civilização, na Terra, passa por estágios de crescimento e desenvolvimento, como o próprio homem. Quando ela atingir a maturidade, veremos as nações a respeitarem-se mutuamente, não pretendendo interferir uma na liberdade da outra, ajudando-se fraternalmente, exercendo a justiça em toda a sua extensão. A legislação humana procurará aproximar-se cada vez mais das leis naturais, que não abonam os privilégios de castas, de dirigentes, nem de minorias, mas que se estendem a todos, em igualdade de condições. Grande influência tem o espiritismo na lei do progresso, pois é um instrumento valioso para o homem entender a sua natureza, o seu lugar no universo e o seu papel na ordem geral das coisas. Libertando o homem das ideias materialistas, promove-o a cidadão espiritual, colocando-o em condições de uma visão mais ampla acerca do seu próprio futuro, instruindo-o sobre como deve fazer para atingir a sua pureza espiritual.


Da lei de igualdade

Perante Deus, todos os homens são iguais. Estão em posições evolutivas diferentes, mercê do esforço de cada um e da época da sua criação. A desigualdade de aptidões é fruto do desenvolvimento individual e o convívio grupal de pessoas com aptidões diferentes é um incentivo à ajuda mútua. As desigualdades sociais são fruto de abusos do homem, e a desigualdade das riquezas é uma prova que nem sempre é superada. Os ricos, em vez de utilizarem o seu património na geração de trabalho, dignificando o homem, fazem da exploração dele uma fonte de aumento da sua riqueza, envolvendo-se, cada vez mais, no egoísmo e no orgulho destruidores. Os pobres, em vez de aproveitarem a oportunidade para o desenvolvimento dos seus potenciais de trabalho construtivo e dos sentimentos sadios, decorrentes do cumprimento dos seus deveres, perdem-se na revolta, na acomodação e na preguiça, acumulando, ainda mais, misérias e atrasos. É claro que entre estes dois extremos existem posições diversas. O homem e a mulher têm os mesmos direitos perante Deus; porém, os preconceitos humanos colocam a mulher como oprimida e o homem como opressor. Ambos têm funções específicas que só alcançam o seu mais alto nível de desenvolvimento quando eles se associam. Apesar do fausto dos túmulos, que pretende perpetuar a memória do morto, perante a morte todos os homens são iguais, cada um levando para o mundo espiritual a sua consciência, como resultado de todas as suas experiências.


Da lei de liberdade

A liberdade é um impulso natural, que provém do espírito, que almeja sair de onde está e ser o que ainda não é. Por ser criado, e não criar-se, sente-se escravo da criação e luta sempre para ser livre. Pelo facto de no estado de simplicidade ser inteiramente inconsciente, a sua luta faz-se no sentido de consciencializar-se. Quanto mais consciente mais responsável. A escravização de qualquer modalidade - do homem pelo homem, pela máquina, pela economia, pela política - contraria a lei de liberdade. A liberdade de pensamento e de consciência é um direito inalienável do homem, servindo como aferidora do progresso e da civilização. O livre-arbítrio é função do pensamento do espírito, podendo ser diferentemente enquadrado em razão de influências passadas, acumuladas em processos de abuso. A responsabilidade do acto é consequência directa do livre-arbítrio e do estado de consciência em que se encontre o espírito. A fatalidade é decorrência natural da lei de causa e efeito e pode ser gerada com grande antecipação ou nos momentos que antecedem o acto. A morte, como extinção da vida física, que depende do fluido vital, é fatal, podendo no entanto o seu momento ser modificado por antecipação ou retardamento, em que múltiplas situações se conjugam, principalmente de ordem espiritual. O mundo espiritual precede o mundo material. A matéria só existe em função da existência do espírito; ela não teria finalidade se não fosse para servir de suporte à evolução do espírito. A imortalidade é do espírito e não da matéria, que é perecível, finita e transformável. A fatalidade não deve servir de capa encobridora das responsabilidades do homem, que a usa para eximir-se da culpa. O homem, sozinho ou em grupo, pode accionar mecanismos da lei de causa e efeito, gerando a fatalidade. Quando esta se abate sobre uma colectividade é porque as responsabilidades são grupais, mas sempre dela Deus tira um resultado proveitoso. O homem, pelo seu presente, pode deduzir o seu futuro, desde que conheça as leis que regem a evolução. Como sempre é vítima de si mesmo, recebendo influências do seu passado ou do seu presente, cumpre-lhe, usando a sua inteligência, fugir do mal e praticar o bem, tornando-se bom, único caminho de crescimento espiritual. A fatalidade nunca leva o homem a praticar o mal, que sempre nasce do seu desejo, seja por inferioridade, por vício ou por fraqueza.


Da lei de justiça, amor e caridade


A lei de justiça é intrínseca ao ser humano. Basicamente, está no respeito aos direitos do outro. É deformada pelo interesse pessoal, de grupos ou povos, servindo ao egoísmo e ao orgulho. Ela deve prevalecer, para regular as acções entre os homens, baseada no respeito a uma hierarquia moral, que ainda, infelizmente, não vige na nossa sociedade. O direito mais primário que o indivíduo detém é o da sua própria vida; daí o dever de preservá-la, e também a do próximo. A propriedade verdadeira é a que o indivíduo consegue pelo seu trabalho, dedicação, sem prejuízo de outrem, devendo sempre contentar-se com o que possui, evitando desvairar-se à procura de acumular bens materiais. Todo o acto de apropriação indébita, com ou sem violência mas sempre com astúcia, é considerado roubo. A caridade, sendo o amor em acção, deve sempre ser dinâmica, e nunca paternalista. Não se pode confundir esmola com caridade. A caridade não é um acto, é uma virtude, que deve estar presente em todos os actos do ser humano. O amor materno-filial e filial-materno é um dos primeiros modelos do amor entre os homens. Serve como protótipo para o desenvolvimento do amor entre as pessoas, noutros níveis de relacionamento. Quem não aprendeu a amar a sua mãe ou o seu filho não saberá amar o seu semelhante; e quem não sabe amar o seu semelhante não pode afirmar que ama a Deus.

Da perfeição moral


A virtude é a força de resistência aos maus pendores; o vício é a aceitação e a repetição de actos que caracterizam os maus pendores, fruto do atraso e da ignorância do espírito. Os bens que o espírito detém devem ser aplicados sempre em benefício de muitos, pois aquele que apenas usufrui para si das riquezas que possui denota o seu grau de atraso e de egoísmo. A moral sem exercício é como semente sem fruto. As paixões são forças vivas do espírito, que as deve dominar, para aplicá-las convenientemente a bem do seu progresso espiritual, porque quando é dominado por elas, geralmente, candidata-se a grandes derrocadas morais. O egoísmo é um vício do espírito, dele derivam todos os outros; é a negação do amor ao próximo, único meio do indivíduo sair do seu ensimesmamento; é um traço de inferioridade do espírito. O personalismo é o filho dilecto do egoísmo. Como a caridade é a mãe de todas as virtudes, só ela poderá enfrentar o pai de todos os vícios - o egoísmo. Conhece-se o homem de bem pelos seus actos, tal como uma árvore pelos seus frutos, e não pelos títulos que se lhe pendurem nos galhos. A prova pela qual o homem se melhora e o espírito evolui é a do conhecimento de si mesmo. Conhecer-se a si próprio, ao meio que o rodeia, às leis que regulam o seu relacionamento com este meio e com os seus semelhantes, aplicando o conhecimento das leis morais em si mesmo, é o que leva o espírito à perfeição, tirando-o da inconsciência para a consciência plena.

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